terça-feira, 11 de agosto de 2009

HISTÓRIA DA ASTROLOGIA - O IMPÉRIO ROMANO

(...Continuação)

César Augusto

No final do Sec III a.C., os romanos começaram a interessar-se pela literatura e pelo teatro gregos.
Inevitavelmente, a preocupação dos gregos com a astrologia começou a atrair os escritores romanos e ela foi adoptada por muitos imperadores como forma de reforçar a sua grandiosidade e de prevenir possíveis conluios contra ela.

IMPERADORES E ASTRÓLOGOS CONSPIRADORES

No Sec I a.C., o político Cícero (106-64 a.C.) descreveu na sua De Divinatione (publicada logo após o assassinato do Imperador Júlio César) a crença grega de que: “Não é simplesmente provável, mas certo, que tal como a temperatura do ar é regulada por uma força celestial, também as crianças à nascença são influenciadas na mente e no corpo, e essa força determina a sua mente, modos, temperamento, condição física, percurso na vida e destino.”
Mas, também havia alguma desconfiança em relação aos astrólogos, por vezes, fundamentada. Na Sicília, cerca de 133 a.C., um astrólogo chamado Eunus liderou uma revolta de escravos bastante grande e, menos de trinta anos depois, o astrólogo Athenio liderou outra revolta de escravos, dizendo que os planetas tinham revelado que ele era o Verdadeiro Rei da Sicília. Se assim era, não chegou a assumir o trono. Não admira que os imperadores romanos desconfiassem da astrologia: o que os homens viam “nas estrelas” podia incitá-los a acções extraordinárias e perigosas.

FIGULOS, O OLEIRO

Aos poucos, homens com cargos públicos começaram a exprimir a sua crença e entusiasmo pelo assunto. P. Nigidius Figulus, senador e pretor (magistrado), foi o primeiro astrólogo romano cujo nome conhecemos – chamaram-lhe Figulos (figulo ou oleiro) porque defendia que a Terra girava tão depressa como a roda de um oleiro.
Dizia-se que ele não era igualado nem pelos Astrólogos da Mênfis Egípcia (antiga capital do Egipto) nas observações do céu e no cálculo sobre as estrelas e pensa-se que previu a grandiosidade do Imperador Augusto no dia em que este nasceu. Mais tarde, o letrado Varro (116-27 a.C.), um dos mais eruditos letrados romanos, encomendou um horóscopo de Roma e do seu fundador, Rómulo. É o primeiro exemplo do uso da astrologia para revelar o passado, examinando um horóscopo traçado para o momento da fundação de uma cidade. É também o primeiro horóscopo de uma figura histórica.
O historiador Plutarco (46-120 d.C.) deteve-se sobre o resultado com grande interesse e relatou-o entusiasticamente.

MARÉ EM MUDANÇA

Os cépticos começaram a ser ultrapassados em número pelos crentes – e, embora alguns dos primeiros fossem influentes, a astrologia muitas vezes saia-se bem. Júlio César (100-44 a.C.), por exemplo, desprezou o conselho astrológico de Spurinna, que (como Plutarco relata) lhe disse para “ter cuidado com um perigo que não o ameaçaria para além dos idos de Março”. Pagou a factura ao ser assassinado nessa altura.
O Imperador seguinte, Augusto (63 a.C-4 d.C.) conheceu a astrologia quando estava no exílio e parecia pouco provável que regressasse a Roma.
Convenceram-no a consultar um astrólogo, Teógenes, acerca do seu futuro. O historiador Suetónio descreveu como, depois de traçar o mapa de Augusto, Teógenes se ergueu e se prostrou a seus pés; e isso deu a Augusto uma fé tão grande no seu destino que até se aventurou a publicar o seu horóscopo e cunhou uma moeda de prata com a imagem de Capricórnio, o signo sobre o qual tinha nascido. Na verdade, Augusto era Balança; fez constar que era Capricórnio porque este signo era mais indicativo de um governador forte e dominante.


Tibério

TIBÉRIO E TRASÍLIO

O sucessor de Augusto foi Tibério (42 a.C.-37 d.C.), um homem que se apaixonou pela astrologia. O seu astrólogo pessoal, Trasílio, foi um dos mais influentes de sempre.
Trasílio era um alexandrino, editor de Platão e Demócrito, que estava na ilha de Rodes – mesmo na altura em que Tibério achou melhor sair de Roma, onde se tinha envolvido numa luta com o seu sogro, o Imperador. Rodes era uma ilha relativamente deserta e não civilizada e os dois homens começaram a passar muito tempo juntos. Supostamente o astrólogo ensinou Tibério a construir e interpretar mapas. Também previu que o seu aluno seria em breve chamado a Roma e teria um futuro brilhante. Quando Augusto mandou chamar Tibério, em 4 d.C., e o proclamou oficialmente seu herdeiro, Trasílio viajou com o seu mecenas e tornou-se cidadão romano.
Durante os nove anos em que Tibério foi Imperador, Trasílio esteve sempre a seu lado, aconselhando-o sobre assuntos pessoais e de Estado. Durante esse período, a vida não era tranquila e se Trasílio estava mais ou menos seguro, os outros astrólogos tinham de ter cuidado. Dois deles, Pituanius e P. Marcius, associaram-se a Seribonius Libo, um pretor não muito inteligente que organizou um golpe contra o Imperador – acabaram com a cabeça espetada numa estaca.
Houve outras conspirações e contra-conspirações e o próprio Trasílio aconselhou o imperador a deixar Roma em 26 d.C. enquanto ele permanecia na cidade e apoiava o pretor Sejanus no seu plano para suceder a Tibério. Foi, sem dúvida, com a ajuda dos mapas que ele ultrapassou com facilidade os conturbados anos que se seguiram e conseguiu continuar vivo quando centenas foram torturados e executados. Diz-se que previu a hora da sua própria morte.


Agripina

O FILHO DO ASTRÓLOGO

Trasílio morreu pouco antes de Tibério. O novo imperador, Gaio – conhecido como Calígula – conhecia bastante bem a família do astrólogo. Aliás, Trasílio tinha ficado muito preocupado ao saber que a neta Ennia tinha um caso com Calígula. Tinha razão em ficar preocupado: Calígula tinha prometido a Ennia casar com ela quando subisse ao trono, mas não o fez; e quando ela casou com outro, ele mandou executar o marido. Ennia suicidou-se.
O filho de Trasílio, Tibério Claudius Balbillus ascendeu na sociedade romana após a morte de Calígula. O novo imperador, Cláudio, era um amigo de infância e Balbillus tornou-se conhecido na corte, acompanhando Cláudio a Inglaterra, enquanto astrólogo e engenheiro-chefe. Quando regressaram, o imperador ofereceu-lhe uma coroa de honra de ouro. Mais tarde, foi sumo-sacerdote do Templo de Hermes na Alexandria e chefe da universidade pública com a sua magnífica biblioteca. Nessa altura, dividia o seu tempo entre Alexandria e Roma.
No entanto, Balbillus foi incapaz de se manter afastado da política e, quando Cláudio morreu, traçou os mapas e disse a Agripina Menor qual o momento em que o seu filho Britânico devia sair de casa se quisesse que viesse a ser imperador. Ela reteve o rapaz até esse momento, altura em que ele saiu e foi proclamado imperador Nero (37-68 d.C.). Anos antes, Balbillus tinha dito a Agripina que isso aconteceria – o seu filho seria imperador tal como ela desejava – mas também que ele mataria a mãe. Ambas as previsões se confirmaram.
Pelo seu papel na conquista da glória de Nero, Balbillus foi nomeado Prefeito do Egipto. Ao contrário de muitos outros, sobreviveu à terrível carnificina que ocorreu durante o reinado do imperador. Diz-se que outro astrólogo que traçou o mapa de Nero no momento em que nasceu desmaiou de pavor mal olhou para ele.

Domiciano

UMA MORTE PREVISTA

Os imperadores romanos que se seguiram não estavam tão preocupados com a astrologia, embora Vespasiano /9-79 d.C.) não só tenha consultado Balbillus como permitiu a realização de jogos em sua honra, em Éfeso – os grandes Jogos Balbilianos realizaram-se até ao Sec. III. Adriano e Sétimo Severo eram adeptos; o último cobriu os tectos do seu palácio com pinturas astrológicas – incluindo a do seu horóscopo.
A crença na astrologia foi incentivada pela relativa facilidade com que os astrólogos previam os acontecimentos das vidas dos imperadores. O que o público não sabia era que muitos dos imperadores se esforçavam por concretizar deliberadamente as previsões, a fim de mostrar que eram favorecidos pelos céus.
Em reinados sucessivos, a vida dos astrólogos ora era tranquila, ora emocionante. Os momentos excitantes foram bem mais frequentes, pois a maioria dos imperadores estava constantemente com receio de possíveis conspirações contra eles. Qualquer um que possuísse uma cópia do mapa do imperador era suspeito de aconselhar um ou mais conspiradores.
Ainda se acreditava muito nas previsões astrológicas. Por exemplo, Domiciano (51-96 d.C.), filho de Vespasiano, ficou muito nervoso quando vários astrólogos previram a sua morte. À medida que se aproximava a hora anunciada, ele ia ficando cada vez mais tenso. Chamou o Astrólogo Ascletárius-Asclation e perguntou-lhe se conseguia prever a sua própria morte. O astrólogo disse-lhe que sim: seria feito em pedaços por cães. Domiciano mandou executá-lo imediatamente para contrariar a previsão. Contudo, quando o corpo do astrólogo aguardava para ser cremado, uma súbita chuva torrencial apagou o fogo e uma matilha de cães selvagens destruiu o cadáver.
No dia seguinte, ao aproximar-se a hora prevista para a sua morte, Domiciano ia ficando mais nervoso. Finalmente, para o acalmar, os seus cortesãos garantiram-lhe que a hora fatal já tinha passado. Muito aliviado, ele decidiu tomar um banho. Enquanto o fazia, entrou um assassino e apunhalou-o até à morte.


(Continua...)
Testo do Livro "Astrologia" Júlia e DereK Parker

2 comentários:

  1. Adelaide,
    Muito interessantes esses registros históricos.
    Fiquei a rir da ajeitadinha astrológica de Augusto.
    :)

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