domingo, 6 de novembro de 2011

A CASA 7 E O DESCENDENTE



A Casa 6 é a última das Casas conhecidas como "Casas Pessoais", e representa o refinamento da personalidade individual através do trabalho, do serviço, da humildade, a atenção à vida quotidiana e ao corpo físico. A Casa 6 focando a vida como um microscópio, analisa-a e classifica-a em diferentes partes e dá a cada uma delas o seu lugar e propósito adequados. Agora sabemos com precisão de que maneira nos diferenciamos de todos e de tudo. Mas, chegando ao final da Casa 6 estamos separados uns dos outros tanto quanto pode permitir-nos a vida e temos de aprender uma lição nova: a de que nada existe isoladamente. Quando chegamos ao Descendente, o ponto mais ocidental do nosso mapa, dobramos bruscamente uma esquina e encontramo-nos de volta ao ponto onde tudo começou. Voltar uma vez mais a conectarmo-nos com o sentimento perdido da nossa unidade com toda a vida será o trabalho das Casas 7 a 12.
O Descendente é a cúspide da Casa 7 e o ponto oposto ao Ascendente. Tradicionalmente considera-se o Ascendente como o "Ponto da Consciência de si!, e o Descendente considera-se o "Ponto de Consciência dos outros". Descreve a nossa maneira de encarar as relações e as qualidades (junto com os planetas na Casa 7) que procuramos num parceiro. No seu livro "Manual Para O Astrólogo Humanista", Michael Meyer escreve também, que o Descendente (e a Casa7) indica as classes de atividades que dão ao indivíduo as experiências "que necessita com o fim de compreender o significado dos outros".
Da mesma forma a Casa 1 é a que tradicionalmente se conhece como a "Casa do eu". A Casa 7 a que está mais afastada da Casa 1, recebe o nome da "Casa dos Outros". É também conhecida pela "Casa do Matrimónio" e, coisa curiosa,   como a "Casa dos Inimigos Manifestos". Aqui toma-se o casamento no sentido de qualquer relação importante baseada num compromisso mútuo, ou seja contraído legalmente ou não. Na Casa 7 duas pessoas unem-se com um propósito: melhorar a qualidade das suas vidas, criar uma família, obter maior segurança e estabilidade e aliviar a solidão e o isolamento.
A maior parte dos textos de Astrologia ensinam que os planetas e signos da Casa 7 descrevem o cônjuge, ou "outro significativo" e de certa forma é verdade. Muitas vezes os posicionamentos nesta casa indicam o tipo de parceiro (a) por quem nos sentimos atraídos. Por exemplo, é possível que um homem que tenha a Lua na Casa 7 procure uma mulher que reflicta as qualidades da Lua: alguém que seja recetiva, compassiva e carinhosa.
Uma mulher com Marte na Casa 7 talvez se sinta atraída por um companheiro que reflita as qualidades de Marte: alguém que se afirme, que seja direto e se imponha. Talvez esteja procurando alguém que tome decisões por ela e que lhe diga o que tem de fazer.
Se na Casa 7 há vários planetas ou signos diferentes (como no caso de uma casa intercetada) o problema pode resultar muito confuso porque estaremos procurando no companheiro muitas classes de atributos diferentes. Por exemplo, no caso de uma mulher que tenha Saturno e Úrano na 7ª Casa, andará em busca de alguém que lhe ofereça estabilidade e segurança (Saturno) mas ao mesmo tempo, necessitará de alguém imprevisível, atraente e altamente individualista (Úrano), dois conjuntos de qualidades que dificilmente convivem sem atritos na mesma pessoa. É provável que comece por casar-se com "Saturno" e ter uma aventura com "Úrano". Ou talvez se case primeiro com "Úrano", se divorcie dele pelo seu caráter errático e instável e logo, com um suspiro de alívio se refugie na segurança de "Saturno". Ou se é um pouco mais madura psicologicamente, poderá ser que se case com "Saturno" e encontre maneiras inofensivas para a relação, de satisfazer a sua necessidade de Úrano e, inclusivamente, desenvolver mais a sua natureza uraniana. Pode também casar-se com "Úrano" e ser ela mesma quem traga ao casal a segurança saturnina.
Mais que limitar-se a descrever a natureza do companheiro ou companheira, os signos e planetas na Casa 7 sugerem as condições da relação: Saturno poderá indicar uma união baseada no dever e na obrigação. Marte na Casa 7 é propenso ao "amor" à primeira vista, a apressar-se no casamento, alternando com tempestuosas batalhas e com reencontros apaixonados.
Arthur Rimbaud, o poeta francês, contra o qual a sua amante disparou, tinha juntos na Casa 7 Úrano e o explosivo Plutão. Rex Harrison, com seis matrimónios, nasceu com Júpiter na 7ª Casa. A expansão de Júpiter na casa do matrimónio é inegável.
Os posicionamentos na Casa 7 são o que esperamos encontrar em parcerias estreitas e, portanto, indicam aqueles atributos que mais reparamos na outra pessoa. Invariavelmente, no mapa do nosso companheiro ou companheira haverá algo que confere com os Planetas e os Signos da nossa Casa 7, e o mais frequente será que o mapa do nosso parceiro reflicta quase sobrenaturalmente a nossa Casa 7. Por exemplo, é muito provável que se uma mulher tem Marte, Saturno e Plutão nesta casa, encontre um marido que tenha Marte, Saturno e Plutão na Casa 1, ou então alguma combinação, como o Sol em Áries (reflexo de Marte na 7 dela), a Lua em Escorpião (reflexo de Plutão  dela na 7) ou 3 planetas em Capricórnio (reflexo de Saturno na 7 dela).
Com respeito ao Descendente e à Casa 7 devemos voltar a mencionar o mecanismo psicológico da projeção. No seu livro Relações, Liz Greene sugere que os planetas existentes no Descendente e na Casa 7 representam qualidades que "embora pertençam ao indivíduo, são inconscientes" e que procuramos vivê-las "por intermédio de um parceiro, ou dos tipos de experiências que nos apresenta a relação."
Vou tentar explicar: O Descendente é o ponto mais Oeste do mapa e deixa de ser visível no momento em que nascemos. Deste modo ele descreve o que está oculto em nós, aquilo que sentimos que não nos pertence porque não podemos ou não queremos ver em nós. Ora bem, diametralmente opostos, ao Ascendente e *a Casa 1, o Descendente e a Casa 7 revelam aquelas qualidades que estão em nós e que se torna mais difícil reconhecer e adaptar, ou seja, aceitar e assumir a responsabilidade por elas. No entanto, como Jung diz, "quando uma situação interior não é consciente, acontece como sendo fado ou destino". Se permanecermos inconscientes de algo que há em nós, então "por força o mundo deve necessariamente actuar no conflito e rasgá-lo em metades opostas". Dito por outras palavras, aquilo de que não temos consciência em nós, o atrairemos invariavelmente por intermédio dos outros.
Tradicionalmente descreve-se o Descendente e a Casa 7 com aquelas qualidades que procuramos no nosso parceiro, mas num nível mais profundo representam aquelas qualidades que existem ocultas em nós e que necessitamos integrar conscientemente apercebendo-nos delas para sermos completos: são o que Liz Greene chama "o casal interior". Se retirarmos esses atributos em nós porque se nos apresentam como desagradáveis ou inaceitáveis, então não é surpreendente que não gostem de nós quando nos vêem por mediação e reflexo de outra pessoa. Daqui a conotação da Casa 7 como a esfera dos inimigos manifestos.
No entanto, podemos  também impedir ou desconhecer características potencialmente positivas, que podem ser potenciais atributos que nos fascinam ou nos entusiasmam quando os encontramos noutros. Enamoramo-nos das pessoas que exibem diretamente essas caraterísticas porque nos fazem sentir mais completos e, ao casarmos com elas "importamos" essas qualidades para a nossa vida. Idealmente, o companheiro ou companheira pode servir, para essas energias, como uma espécie de modelo que em última instância nos permite voltar a integrá-las conscientemente na nossa própria natureza. Com demasiada frequência, espero, seguimos confiando em que seja a outra pessoa quem as forneça e as canalize. Entramos num jogo de polarização com o nosso par e seguimos sendo somente meia pessoa de cada.
É importante deixar claro que a projeção não é um mecanismo puramente patológico. Uma imagem projetada é um potencial trancado em si mesmo. Quando existe a necessidade de que esta imagem se dê a conhecer, o primeiro passo é percebê-la noutra pessoa. Depois é ter esperança de que nos demos conta de que isso tem algo que ver connosco e a recuperemos conscientemente. Por exemplo, é possível que uma mulher com Marte na Casa 7 não esteja em contato com o seu próprio poder e capacidade de auto-afirmação. Por conseguinte, procura essas qualidades num homem. Encontra um companheiro com um Marte proeminente, um homem dominante e centrado em si mesmo que lhe dá ordens gritando. Através dele ela incorporou Marte na sua vida. No entanto, quando já não o pode tolerar nesta situação, é provável que se dê conta de que também ela tem direito a fazer exigências. Começa então a defender-se e a descobrir assim Marte na sua própria natureza.
Uma vez que em maior ou menor grau, reintegrámos na nossa própria identidade as qualidades da Casa 7, pomo-nos ao serviço destes princípios para expô-los à sociedade no seu conjunto. Assim, uma pessoa com Marte na Casa 7 poderá ser alguém que estimulará os outros a agir. Uma pessoa que tenha lá Saturno poderá trabalhar como professor ou mentor. Muitas pessoas que têm profissões orientadas para a atenção e o cuidado das pessoas, têm intensamente habitada a Casa 7, e necessitam dum fluido quase contínuo de um intercâmbio interno com os outros.
Esta Casa associada naturalmente com Libra e com Vénus, é a esfera em que aprendemos uma maior colaboração com os outros. Representa um dilema com a Casa 1; "até que ponto coopero? (Casa 7) e "até que ponto posso afirmar-me como sou?"(Casa 1). Por um lado, o perigo está em ceder ou matizar demasiado e sacrificar assim a nossa própria identidade por outra. Poderemos exigir aos outros que se adaptem demasiado a nós e privá-los assim da sua individualidade. O problema foi claramente expresso por Hillel: "Se não sou para mim quem serei?" e "Se somente sou para mim quem sou?"
A Casa 7 impõe-nos a tarefa de enfrentar com outra pessoa e equilibrar ambos os extremos da escala.




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