O planeta Neptuno está associado com o deus
romano do mesmo nome e com o grego Posídon. Enquanto personificação da água,
Posídon era o deus dos mares, lagos, rios e correntes subterrâneas. Embora
habitasse num vasto palácio no fundo do oceano, invejava a soberania de Zeus e
estava ávido de ter mais haveres no mundo. Posídon lutou com Atenea, pela Ática
e perdeu-a; também sem êxito, combateu com Hera pela Argólida, e não conseguiu
despojar Zeus de Egina. Enfurecido e solitário, inundou as terras que tinha
sido incapaz de conquistar, ou por puro despeito, secou os seus rios. Como
sucede a Posídon (Neptuno), também as nossas versáteis emoções estão ávidas de
coisas que geralmente não podemos alcançar. O elemento astrológico de água,
associado com o reino dos sentimentos, atua também noutros sentidos de maneira
semelhante a Posídon. Quando emergia do mar podiam suceder duas coisas: às
vezes as águas abriam-se, alegres e magníficas, em torno dele. Outras vezes, no
entanto, a sua aparição era anunciada por violentas tempestades e tormentas
furiosas. De maneira semelhante, quando os nossos sentimentos afloram à
superfície, tanto podem ser plena e divinamente geniais como varrerem-nos como
um maremoto. O planeta Neptuno, assim como a Lua e Vénus, é outra energia da
alma, que representa aquela nossa parte que se funde com os outros, se adapta a
eles, os reflete e tenta unir-se-lhes. Enquanto a mãe Lua adquire a sua
identidade refletindo o outro, e a sedutora Vénus dá com intenção de receber
alguma coisinha em troca, o sentimental Neptuno quer perder a sua identidade
confundindo-se com algo superior a ele. Enquanto que a tarefa principal do ego
isolado (Saturno) é a auto preservação, o planeta Neptuno simboliza a vontade
de dissolver os limites que faz do ser uma entidade à parte e experimentar a
unidade com o resto da vida. Já encontrámos estes dois princípios na análise
geral da Casa XII, e os que leram esse post recordarão que não é muita a
amizade que reina entre eles. É mais Saturno, (que representa o princípio
estruturador do eu) com medo de ser derrubado por Neptuno, engole-o quando este
nasce. Para muitas pessoas a desintegração da identidade individual constitui
uma perspetiva aterradora e de bom grado relegam Neptuno - isto é, ao desejo de
voltarem a conectarem-se com a totalidade da vida- ao inconsciente. Mas (para
aproveitar a análise de Liz Greene) qualquer coisa que se enterre num porão
consegue abrir um túnel que lhe permite sair debaixo da casa e aparecer sobre a
relva do jardim. Se suprimimos Neptuno, ele não se vai embora; pelo contrário,
disfarça-se e surge furtivamente diante de nós. É provável que, na Casa de
Neptuno, sem darmos conta tais
circunstâncias, não nos deixem outra alternativa senão sacrificar as nossas
necessidades e desejos pessoais em obediência a forças que não podemos mudar ou
aliviar de alguma forma. Deste modo, o ego individual vê-se livre do seu
sentimento de superioridade omnipotente e da crença de que constitui uma entidade separada. Assim purificados, somos recebidos afetuosamente nos braços
de algo que nos transcende, De facto foi Júpiter que resgatou Neptuno da
tirania de Saturno. O próprio desejo de expansão (Júpiter) do ego individual
acaba por minar a sua condição de entidade separada, enquanto deixa que Neptuno
ande em liberdade. De forma semelhante, muitas pessoas, em vez de temer a
desintegração do eu, favorecem-na ativamente, em busca da expansão e da felicidade
que vão associadas com uma existência sem limites. Este objetivo pode ser
alcançado de forma construtiva através da meditação, a fé e a veneração
religiosa, a criatividade artística e uma generosa dedicação a outra pessoa ou
a uma causa; ou -mais perigosamente- pode tentar-se o mesmo pela via das
drogas, do álcool ou de uma desenfreada entrega às paixões. Há pessoas que
recordam vagamente um perdido Éden do passado e procuram o céu na terra na Casa
de Neptuno. Convencidos de que é dever de Neptuno conceder-nos tudo,
provavelmente depositamos grandes esperanças nos assuntos que pertencem ao seu
domínio, como se ali estivesse a nossa própria redenção. Depois de termos
apontado nada menos que ao êxtase absoluto, dececionamo-nos invariavelmente que
o mundo exterior não nos entregue o esperado. Feridos e amargurados, é provável
que os nossos olhos recorram à Casa buscando consolo... com frequência no bar
ou no armário dos remédios. Porém, para alguns a desilusão que significa não
obter o que desejávamos de Neptuno é o ponto de partida de outra dimensão da
experiência: em vez de procurar a nossa felicidade exclusivamente nas
realidades externas da vida, voltamos a atenção para dentro. E finalmente, é
possível que descubramos que a felicidade que procurávamos já a tínhamos dentro
de nós, oculta no palácio de ouro indestrutível que Neptuno tem nas profundezas
do mar. Faz falta Júpiter para resgatar Neptuno, e é muito frequente que, na
Casa onde está posicionado Neptuno, andemos em busca de um salvador. Ao fazer o
papel de vítima ou de perdedor, (ao mesmo tempo que renunciamos à responsabilidade
e ao esforço pessoais), temos a esperança que apareça alguém que se encarregue
por nós desse aspeto da vida. Por outro lado, existem pessoas que revertem esta
dinâmica e se esforçam por fazer, neste domínio, o papel de salvadores dos
outros. A diferença dos casos em que a influência é de Saturno, esta atitude
não obedece à pressão de "contos de fadas": desde um novo deus ou
deusa, ou superestrela, a um escândalo público, ou a um conveniente bode
expiatório. Tal como se pode imaginar do deus do mar, Neptuno, é bastante
escorregadio. Quando no seu domínio andamos atrás de algo, é provável que nos
iluda misteriosamente. Muitas vezes em vez de enfrentarmos os factos, atuaremos
como Blanche Dubois, inventando a ilusão de que tudo é maravilhoso. Podemos
decidir não ver mais do que aquilo que fundamenta a nossa fantasia, mais tarde
ou mais cedo, o mais provável é que a realidade desmorone sobre nós. Mas também
pode ser que não: com Neptuno nunca se pode estar seguro. Este planeta está
associado com as coisas do mundo etéreo, que não necessariamente se podem
captar, medir, ou até mesmo ver. Antes da forma em si é a essência subjacente
da forma. Por intermédio da Casa de Neptuno, podemos ter pressentimentos de
estados de consciência superiores ou diferentes, uma visão do infinito e da
eternidade, e daquilo que transcende os limites normais do espaço e do tempo.
Noutro nível, Neptuno é a neblina, nevoeiro e
nebulosidade; segundo a Casa onde esteja, pode mostrar onde nos encontramos
desorientados, confusos e incertos sobre as nossas metas e objetivos, ou nos
inclinamos a andar flutuando à deriva e a deixar-nos levar com qualquer coisa
que surge. Se (como crê Neptuno) Tudo é
Um, então nada que suceda pode ser, de todas as formas, demasiado
importante para nós. Duas figuras associadas com Neptuno, são Dionísio e
Cristo. Ambos pregaram o abandono da identidade independente e a necessidade de
se fundir com algo numinoso e divino. Dionísio reuniu um grupo de seguidores e,
com a ajuda dos efeitos embriagadores do vinho, deixavam-se transportar,
através do sentimento e do êxtase, para outras áreas. Esquecendo as realidades
terrenas da vida, simplesmente abandonavam-se para algo mais vasto que o eu,
sem se preocuparem se tinham deixado o carro estacionado no sítio certo ou se,
a essa hora deveriam estar em casa preparando o jantar para o marido. Neste
caso transcendiam o tempo, os limites e as formas. Alguns veem Cristo ao mesmo
tempo vítima e salvador, ensinou o ego pelo espírito. Para o estabelecido ou
institucionalizado - a consciência ordinária no nível do ego - é difícil
reconhecer como deuses tanto Dionísio como Cristo. Ambos sofreram de alguma maneira
um desmembramento; ambos morreram, para voltarem a nascer. A posição por casas
de Neptuno é o lugar onde, até certo ponto, podemos compartilhar a experiência
destas divindades. Neste domínio podemos desmoronar, mas, para logo estar a
levantar-nos de uma forma diferente, abertos a algo que está mais além do ego.
Atitudes como a boa disposição, vontade de aceitação e a fé ajudam ao processo.
Às vezes na Casa de Neptuno, não temos outras
opções viáveis. O efeito de Peixes na cúspide de uma Casa, ou nela contido, é
semelhante ao de Neptuno. A Casa onde esteja Neptuno irá influenciar sobre
qualquer Casa onde se encontre Peixes. Por exemplo, Marilyn Monroe nasceu com
Neptuno na Casa 1 e Peixes na cúspide da Casa 8, Marilyn chegou a simbolizar
uma imagem idealizada da sexualidade feminina (Peixes na Casa 8), e no processo
sacrificou grande parte da sua própria identidade (Neptuno na Casa 1), a de si mesma, da personalidade.
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