sexta-feira, 15 de julho de 2016

NEPTUNO NATAL NAS CASAS



O planeta Neptuno está associado com o deus romano do mesmo nome e com o grego Posídon. Enquanto personificação da água, Posídon era o deus dos mares, lagos, rios e correntes subterrâneas. Embora habitasse num vasto palácio no fundo do oceano, invejava a soberania de Zeus e estava ávido de ter mais haveres no mundo. Posídon lutou com Atenea, pela Ática e perdeu-a; também sem êxito, combateu com Hera pela Argólida, e não conseguiu despojar Zeus de Egina. Enfurecido e solitário, inundou as terras que tinha sido incapaz de conquistar, ou por puro despeito, secou os seus rios. Como sucede a Posídon (Neptuno), também as nossas versáteis emoções estão ávidas de coisas que geralmente não podemos alcançar. O elemento astrológico de água, associado com o reino dos sentimentos, atua também noutros sentidos de maneira semelhante a Posídon. Quando emergia do mar podiam suceder duas coisas: às vezes as águas abriam-se, alegres e magníficas, em torno dele. Outras vezes, no entanto, a sua aparição era anunciada por violentas tempestades e tormentas furiosas. De maneira semelhante, quando os nossos sentimentos afloram à superfície, tanto podem ser plena e divinamente geniais como varrerem-nos como um maremoto. O planeta Neptuno, assim como a Lua e Vénus, é outra energia da alma, que representa aquela nossa parte que se funde com os outros, se adapta a eles, os reflete e tenta unir-se-lhes. Enquanto a mãe Lua adquire a sua identidade refletindo o outro, e a sedutora Vénus dá com intenção de receber alguma coisinha em troca, o sentimental Neptuno quer perder a sua identidade confundindo-se com algo superior a ele. Enquanto que a tarefa principal do ego isolado (Saturno) é a auto preservação, o planeta Neptuno simboliza a vontade de dissolver os limites que faz do ser uma entidade à parte e experimentar a unidade com o resto da vida. Já encontrámos estes dois princípios na análise geral da Casa XII, e os que leram esse post recordarão que não é muita a amizade que reina entre eles. É mais Saturno, (que representa o princípio estruturador do eu) com medo de ser derrubado por Neptuno, engole-o quando este nasce. Para muitas pessoas a desintegração da identidade individual constitui uma perspetiva aterradora e de bom grado relegam Neptuno - isto é, ao desejo de voltarem a conectarem-se com a totalidade da vida- ao inconsciente. Mas (para aproveitar a análise de Liz Greene) qualquer coisa que se enterre num porão consegue abrir um túnel que lhe permite sair debaixo da casa e aparecer sobre a relva do jardim. Se suprimimos Neptuno, ele não se vai embora; pelo contrário, disfarça-se e surge furtivamente diante de nós. É provável que, na Casa de Neptuno, sem darmos conta  tais circunstâncias, não nos deixem outra alternativa senão sacrificar as nossas necessidades e desejos pessoais em obediência a forças que não podemos mudar ou aliviar de alguma forma. Deste modo, o ego individual vê-se livre do seu sentimento de superioridade omnipotente e da crença de que constitui uma entidade separada. Assim purificados, somos recebidos afetuosamente nos braços de algo que nos transcende, De facto foi Júpiter que resgatou Neptuno da tirania de Saturno. O próprio desejo de expansão (Júpiter) do ego individual acaba por minar a sua condição de entidade separada, enquanto deixa que Neptuno ande em liberdade. De forma semelhante, muitas pessoas, em vez de temer a desintegração do eu, favorecem-na ativamente, em busca da expansão e da felicidade que vão associadas com uma existência sem limites. Este objetivo pode ser alcançado de forma construtiva através da meditação, a fé e a veneração religiosa, a criatividade artística e uma generosa dedicação a outra pessoa ou a uma causa; ou -mais perigosamente- pode tentar-se o mesmo pela via das drogas, do álcool ou de uma desenfreada entrega às paixões. Há pessoas que recordam vagamente um perdido Éden do passado e procuram o céu na terra na Casa de Neptuno. Convencidos de que é dever de Neptuno conceder-nos tudo, provavelmente depositamos grandes esperanças nos assuntos que pertencem ao seu domínio, como se ali estivesse a nossa própria redenção. Depois de termos apontado nada menos que ao êxtase absoluto, dececionamo-nos invariavelmente que o mundo exterior não nos entregue o esperado. Feridos e amargurados, é provável que os nossos olhos recorram à Casa buscando consolo... com frequência no bar ou no armário dos remédios. Porém, para alguns a desilusão que significa não obter o que desejávamos de Neptuno é o ponto de partida de outra dimensão da experiência: em vez de procurar a nossa felicidade exclusivamente nas realidades externas da vida, voltamos a atenção para dentro. E finalmente, é possível que descubramos que a felicidade que procurávamos já a tínhamos dentro de nós, oculta no palácio de ouro indestrutível que Neptuno tem nas profundezas do mar. Faz falta Júpiter para resgatar Neptuno, e é muito frequente que, na Casa onde está posicionado Neptuno, andemos em busca de um salvador. Ao fazer o papel de vítima ou de perdedor, (ao mesmo tempo que renunciamos à responsabilidade e ao esforço pessoais), temos a esperança que apareça alguém que se encarregue por nós desse aspeto da vida. Por outro lado, existem pessoas que revertem esta dinâmica e se esforçam por fazer, neste domínio, o papel de salvadores dos outros. A diferença dos casos em que a influência é de Saturno, esta atitude não obedece à pressão de "contos de fadas": desde um novo deus ou deusa, ou superestrela, a um escândalo público, ou a um conveniente bode expiatório. Tal como se pode imaginar do deus do mar, Neptuno, é bastante escorregadio. Quando no seu domínio andamos atrás de algo, é provável que nos iluda misteriosamente. Muitas vezes em vez de enfrentarmos os factos, atuaremos como Blanche Dubois, inventando a ilusão de que tudo é maravilhoso. Podemos decidir não ver mais do que aquilo que fundamenta a nossa fantasia, mais tarde ou mais cedo, o mais provável é que a realidade desmorone sobre nós. Mas também pode ser que não: com Neptuno nunca se pode estar seguro. Este planeta está associado com as coisas do mundo etéreo, que não necessariamente se podem captar, medir, ou até mesmo ver. Antes da forma em si é a essência subjacente da forma. Por intermédio da Casa de Neptuno, podemos ter pressentimentos de estados de consciência superiores ou diferentes, uma visão do infinito e da eternidade, e daquilo que transcende os limites normais do espaço e do tempo.
Noutro nível, Neptuno é a neblina, nevoeiro e nebulosidade; segundo a Casa onde esteja, pode mostrar onde nos encontramos desorientados, confusos e incertos sobre as nossas metas e objetivos, ou nos inclinamos a andar flutuando à deriva e a deixar-nos levar com qualquer coisa que surge. Se (como crê Neptuno) Tudo é Um, então nada que suceda pode ser, de todas as formas, demasiado importante para nós. Duas figuras associadas com Neptuno, são Dionísio e Cristo. Ambos pregaram o abandono da identidade independente e a necessidade de se fundir com algo numinoso e divino. Dionísio reuniu um grupo de seguidores e, com a ajuda dos efeitos embriagadores do vinho, deixavam-se transportar, através do sentimento e do êxtase, para outras áreas. Esquecendo as realidades terrenas da vida, simplesmente abandonavam-se para algo mais vasto que o eu, sem se preocuparem se tinham deixado o carro estacionado no sítio certo ou se, a essa hora deveriam estar em casa preparando o jantar para o marido. Neste caso transcendiam o tempo, os limites e as formas. Alguns veem Cristo ao mesmo tempo vítima e salvador, ensinou o ego pelo espírito. Para o estabelecido ou institucionalizado - a consciência ordinária no nível do ego - é difícil reconhecer como deuses tanto Dionísio como Cristo. Ambos sofreram de alguma maneira um desmembramento; ambos morreram, para voltarem a nascer. A posição por casas de Neptuno é o lugar onde, até certo ponto, podemos compartilhar a experiência destas divindades. Neste domínio podemos desmoronar, mas, para logo estar a levantar-nos de uma forma diferente, abertos a algo que está mais além do ego. Atitudes como a boa disposição, vontade de aceitação e a fé ajudam ao processo.
Às vezes na Casa de Neptuno, não temos outras opções viáveis. O efeito de Peixes na cúspide de uma Casa, ou nela contido, é semelhante ao de Neptuno. A Casa onde esteja Neptuno irá influenciar sobre qualquer Casa onde se encontre Peixes. Por exemplo, Marilyn Monroe nasceu com Neptuno na Casa 1 e Peixes na cúspide da Casa 8, Marilyn chegou a simbolizar uma imagem idealizada da sexualidade feminina (Peixes na Casa 8), e no processo sacrificou grande parte da sua própria identidade (Neptuno na Casa 1), a de si mesma, da personalidade.

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