A Casa 8 tem muitas
etiquetas. Como é a oposta à Casa 2, que é a casa dos "meus valores", a esta se chama geralmente a "casa
dos valores dos outros". Isto pode tornar-se num sentido bastante
literal. Os signos e os planetas que existem nesta casa sugerem como vamos
desde o ponto de vista financeiro no matrimónio, as heranças ou as sociedades
de negócios. Por exemplo, Júpiter nesta casa pode fazer um casamento muito
conveniente, receber de presente uma herança inesperada, esquivar-se
alegremente aos impostos e encontrar bons sócios comerciais.
Por outro lado, quem
tem um Saturno com mau aspeto na casa 8 pode casar-se com alguém que no dia
seguinte se encontre falido, herdar as dívidas de algum parente, suportar
alguma minuciosa investigação das finanças ou escolher uns sócios comerciais
desastrosos.
Não é raro encontrar
pessoas com muitos planetas na Casa 8, em carreiras onde estão em jogo
dinheiros alheios - banqueiros, corretores de bolsa, analistas de investimentos
e contabilistas.
No entanto, a Casa 8
é muito mais do que o mero dinheiro alheio. Descreve "aquilo que se comparte" e a forma em que nos fundimos e
unimos com os outros. Enquanto elabora e expande o que começou na Casa 7, a
Casa 8 é a essência das relações: o que sucede quando duas pessoas, cada uma
delas, com o seu próprio temperamento, os seus recursos, o seu sistema de
valores, as suas necessidades e o seu relógio biológico, tentam unir-se. O mais
fácil é que surjam múltiplos conflitos:
Eu tenho algum
dinheiro e tu tens o teu. "Como o
gastamos?" "Quanto tentaremos poupar cada mês?"
ou
Gosto de fazer amor três
vezes por semana, mas parece que tu necessitas dele todas as noites. "Quem ganha?"
ou
Tu crês que é
necessário bater, mas eu insisto em que nenhum filho meu seja castigado. "Quem tem razão?"
O corredor destinado
a encaminhá-los para o caminho da bem-aventurança conjugal parece ter-se
convertido num sangrento campo de batalha e o que se vê mais para diante parece
um cortejo fúnebre.
A Casa 8 associada
naturalmente com Plutão e com Escorpião, é chamada também da "casa do sexo, da morte e da
regeneração". No mito, Plutão -o deus da Morte- sequestra a virgem Perséfone
e leva-a aos infernos. Ali se casa com ela e quando regressa ao mundo, Perséfone
mudou e já não é mais uma menina, mas sim uma mulher. Relacionarmo-nos
profundamente com outra pessoa leva consigo a uma espécie de morte, o libertar
e a destruição das fronteiras do ego e da intrincada identidade. A morte
enquanto "eu" separado
leva-nos a renascer como "nós".
Como Perséfone,
mediante a relação afundamo-nos num mundo desconhecido. No sexo e na intimidade
descobrimos e compartilhamos partes de nós que normalmente se mantêm ocultas. O
sexo pode ser considerado como uma mera libertação que temporariamente faz com
que nos sintamos melhor, ou, mediante o ato sexual, podemos ter a experiência
de uma forma de nos auto transcender da
união com outro ser. Nos picos do êxtase esquecemo-nos e abandonamo-nos de nós
mesmos para nos fundirmos com o outro. Os Isabelinos referiam-se ao orgasmo
como "a pequena morte". Boa
parte da nossa natureza sexual revela-se nos posicionamentos da casa 8.
As relações são os
catalisadores da mudança. A Casa 8 limpa e regenera, trazendo à superfície (geralmente
pela via de uma relação atual) problemas que ficaram por resolver em relações
anteriores, especialmente aqueles primeiros problemas de vinculação com a mãe
ou com o pai. A primeira relação da nossa vida, a que tivemos com a mãe ou com
alguém que a substituía, é a mais carregada, não sendo surpreendente, pois que
a nossa sobrevivência depende dela. Todos nascemos neste mundo como vítimas
potenciais: a menos que contemos com o amor e a proteção de alguém maior e mais
hábil do que nós, as nossas possibilidades de sobrevivência são muito ténues.
A perda do amor de
uma mãe não significa somente a perda de uma pessoa próxima a nós: poderá
significar o abandono e a morte. Somos muitos os que seguimos projetando essas
mesmas preocupações infantis nas nossas relações posteriores. O medo que o
nosso cônjuge não nos continuará amando, ou que nos poderá atraiçoar,
desencadeará ou voltará a despertar os medos primários da perda do objeto
amoroso originário. Tem-se então a sensação que a sua sobrevivência depende da
preservação da relação presente. Súplicas e clamores no estilo de "se me deixas morrerei" e "não posso viver sem ti" revelam
a força das correntes subterrâneas, provenientes das iniciais dificuldades de
relação, que se infiltram na realidade da situação atual. É verdade que em
meninos teríamos morrido se a mãe nos tivesse deixado, mas o mais provável é
que, quando adultos, somos perfeitamente capazes de atender às nossas próprias
necessidades de sobrevivência. Ao pôr a descoberto estes medos ocultos e não
resolvidos, as provas e tribulações na Casa 8, ajuda-nos a deixar atrás
atitudes que, por obsoletas, nos estorvam. Nem todo o companheiro (a) é nosso
(a) mãe.
Também dos nossos
medos irracionais, é possível que uma boa proporção da indignação e da cólera
que nas ocasiões sentimos, e que descarregamos sobre o nosso companheiro ou
companheira, se pode rastrear retrospetivamente na infância e na meninice. As
crianças não são pura doçura, sentimentalismo e claridade. A obra da psicóloga
Melanie Klein revelou outro aspeto da natureza do bebé. Devido ao seu extremo
desamparo, o menino pequeno experimenta uma frustração enorme quando a mãe não
entende nem satisfaz as suas necessidades. Nem sequer a mais hábil das mães
pode interpretar sempre e com precisão o que é que reclamam os berreiros de um
bebé, e a insatisfação do menino estala invariavelmente em violenta
hostilidade. Como as primeiras vivências deixam uma marca tão profunda, todos
levamos dentro de nós um "bebé
raivoso". Quando o nosso companheiro (a) nos frustra de alguma
maneira, é possível que o "choro"
volte a despertar.
Como Perséfone
sequestrada no mundo subterrâneo, nas relações muito intensas todos descemos às
profundezas do nosso ser para ali descobrir a nossa herança instintiva
primitiva: a inveja, a cobiça, os ciúmes, a raiva, as paixões que mexem, a
necessidade de poder e de domínio e também as fantasias destrutivas que podem
estar emboscadas e ocultas atrás da mais gentil fachada. Somente se aceitarmos
a "fera" que há em nós
teremos a possibilidade de transformá-la. Não podemos mudar nada sem saber que
está ali. Não podemos transformar algo que condenamos. O aspeto mais escuro da
nossa natureza deve ser trazido à luz antes de nos podermos limpar, regenerar
ou voltar a nascer.
É provável que antes,
no empenho de negar esse aspeto mais obscuro, tenhamos sufocado um vasto caudal
de energia psíquica tentado reconhecer o nosso estado de espírito vingativo, a nossa
crueldade, ou a nossa raiva, não significa necessariamente uma catarse ou uma
atuação indiscriminada destas emoções. Um comportamento assim, comporta um
gasto de energia que possivelmente destrói muito mais do que queremos. A melhor
chave reside em reconhecer e assumir esses sentimentos explosivos, ao mesmo
tempo que os contém. Ao voltar a conectar com a fonte de energia que se expressa
como instintos ultrajados e encontrar apoio interno nela, terminaremos por libertar
essa energia de forma em que se viu presa. Assim desviada é possível voltar a
integrá-la conscientemente e de maneira mais produtiva na psique, ou
canalizá-la bem para saídas construtivas. Cozinhar a fogo brando num caldo de
emoções primárias até que elas estejam no ponto para mudar, não é muito
agradável mas, ninguém diz que o trabalho que nos propõe a Casa 8 seja fácil.
Esta casa oferece-nos
a oportunidade de reanalisar a ligação existente entre os problemas do relacionamento
atual e os que no começo da vida se levantaram com ambos os pais. Com base na
nossa perceção do meio ambiente, enquanto somos crianças, formamos opiniões
sobre o tipo de pessoa que somos e como é para nós a vida "lá fora". Estas crenças ou "guiões" estão operando por vezes inconscientemente, até
à idade adulta. A menina que acreditava que "o
papá era um canalha" torna-se uma mulher que leva profundamente
arreigado o sentimento de que "todos
os homens são canalhas". Devido às leis do determinismo psíquico,
temos uma capacidade misteriosa e quase assustadora de atrair para a nossa vida
precisamente as pessoas e as situações que servem de base a estes pressupostos.
Se não fosse assim, provavelmente não o faríamos e perceberíamos. Em qualquer
caso, o objetivo de um complexo é demonstrar a sua própria verdade.
Na Casa 8 escavam-se
as ruinas e os escombros da infância. Os nossos enunciados vitais mais
problemáticos e mais profundamente existenciais são descobertos, "ao vivo e a cores", nas
crises das nossas atuais relações. Com a maturidade e a prudência adicionais
que nos concedem os anos vividos, podemos "limpar"
em parte os resíduos do passado que coloriram e obscureceram a nossa visão
da vida, de nós mesmos e dos outros. O dom da Casa 8 é um assunto de
autoconhecimento e autocontrolo, que nos deixa livres para continuar a nossa
viagem renovados e livres de bagagem desnecessária.
No caso de
fracassarem as nossas tentativas de mudar e desenvolver as voláteis questões
que suscita a Casa 8, podemos olhar os posicionamentos que nela existem como
pontos de referência para se ter uma ideia de como poderia ser um processo de
divórcio. Os aspetos planetários difíceis nesta Casa 8 anunciam separações
traumáticas e acordos de divórcio complicados. Os dois "bebés raivosos" e os seus advogados são responsáveis por
travar a batalha no tribunal.
Na Casa 8
descrevem-se todos os níveis de experiência compartilhada. além do domínio das
finanças conjuntas e da fusão de dois indivíduos em um, esta casa tem uma
orientação ecológica mais ampla. Nós todos temos que compartilhar o nosso
Planeta e os seus recursos. O capitalista superdinâmico que arrasa
indiscriminadamente com bosques sem pensar em mais nada a não ser no seu
benefício, não tendo consideração alguma pelos habitantes da floresta, além de
estar a privar o seu semelhante de um ambiente natural, fonte de beleza e
inspiração. A sensibilidade de uma pessoa a estes problemas é refletida pelos
posicionamentos na Casa 8.
A casa denota também
a nossa relação com que os filósofos exotéricos chamam o "Plano Astral". Uma emoção forte, mas não necessariamente
visível, trespassa de todas as maneiras a atmosfera que nos rodeia. O plano
astral é aquele nível da existência onde se encontram e circulam emoções e
sentimentos aparentemente intangíveis, mas poderosos. Os leitores de
mentalidade mais racionalista talvez duvidem da credibilidade de algo que não
se pode ver nem medir. E no entanto, a maioria de nós já teve a experiência de
entrar na casa de uma pessoa e sentir imediatamente algo desagradável, como que
uma angústia, enquanto que na casa de outra pessoa nos sentimos em alta e
cheios de bem-estar. Os planetas e signos na Casa 8 mostram o tipo particular
de energias que esvoaçam no ambiente astral às quais somos mais sensíveis.
Alguém com Marte na Casa 8 captará a raiva que flutua no ar com mais facilidade
que quem tenha na mesma casa Vénus; esta última percebe mais rapidamente quando
é o amor o que está no ar. Neste aspeto a Casa 8 é semelhante às outras casas
de água - a quatro e a doze. Na Casa 8 mostram-se as experiencias da esfera
psíquica ou oculto, o mesmo que o grau de interesse ou de fascinação que
sentimos pelo que está oculto, pelo que
é misterioso ou se encontra debaixo do nível superficial da existência.
A morte tal como a demonstram
os posicionamentos da Casa 8, pode tornar-se em sentido literal, como a maneira
ou as circunstâncias atenuantes da nossa morte física. Saturno nesta casa pode
mostrar-se relutante em morrer, temeroso do que haja para além da existência
corpórea. Neptuno pode morrer do resultado de drogas, por intoxicação alcoólica
ou afogamento, ou ainda desprendendo-se da vida gradualmente, em estado de
coma. Úrano pode pôr fim a tudo de forma súbita.
No entanto, no espaço
de uma vida podemos experimentar muitas mortes psicológicas diferentes. Se
temos estado obtendo o nosso sentimento de identidade de uma relação e esta se
acaba, equivale a uma espécie de morte do que fomos. Da mesma forma se o nosso
sentimento de vitalidade ou de significado na vida vem de certa atividade e
devemos renunciar a ela, também isso é uma morte da maneira em como nos
conhecíamos. Ao morrer a infância, nasce a adolescência. A adolescência
extingue-se e essa morte remete-nos para a idade adulta. Um nascimento requer
uma morte e uma morte um nascimento. Os signos e planetas da Casa 8 indicam a
forma como lidamos com estas fases de transição. É frequente que os indivíduos
com forte posicionamento na Casa 8 sintam que a sua vida é um livro com muitos
capítulos diferentes, ou uma longa peça de teatro com mudanças bruscas de
cenário. É possível que essa série de terminações e novos começos caia sobre
nós mas, também que assumamos um papel mais ativo naquilo que nos sucede,
destruindo as antigas estruturas para dar lugar ao surgimento de outras coisas.
Na mitologia os
deuses criam o mundo, decidem que não gostam, destroem o que construíram e
criam outro. A morte é um processo contínuo na natureza. Esta é também a imagem
do deus que morre e ressuscita, que destruído de uma forma, reaparece depois
transformado.
A Cristo
cruxificam-no mas depois ressuscita. Dionísios esquartejam-no, mas Atena, deusa
da Sabedoria resgata o seu coração e o deus volta a nascer. É provável que,
como Fénix, nos encontremos temporariamente reduzidos a cinzas, mas podemos
voltar e levantarmo-nos delas renovados. A fórmula pode ser destruída mas a
essência permanece pronta para voltar a florescer novamente de alguma outra
maneira.
Goethe, o poeta
alemão escreveu:
"Enquanto não morreres e te voltes a levantar de
novo/ És um estranho na terra escura".
Sabe-o bem, todo
aquela que tenha sobrevivido aos traumas e tensões da casa 8.