A Casa de Úrano significa o lugar da
experiência onde nos fascinam e mesmo inconscientemente provocamos mudanças
drásticas nas situações, onde achamos natural que tudo o que é novo nesse campo
é de um interesse fascinante para experimentar. Dependendo dos aspetos de Úrano
e a sua posição no signo, dependerá o resultado e até mesmo o medo que temos
diante da nossa tendência de derrubar barreiras nessa área.
Não é muito o que a mitologia nos conta de
Úrano. Como primeiro deus do céu, regia a expansão ilimitada do espaço e
correspondeu-lhe a missão de inventar e desenhar a natureza.
Realizou atos tão criativos como dar forma às
asas das borboletas, que levavam cada uma o selo da sua própria peculiaridade e
individualidade. É na Casa ocupada por Úrano na Carta Natal, onde somos capazes
de pensamento e ação originais e novos. No seu domínio, não é necessário
cumprir as diretrizes de comportamento tradicionais e convencionais.
Estava casado com Gaia, a Mãe Terra. Todas as
noites o Céu se deitava sobre a Terra, com o resultado de que não deixavam de
conceber filhos. O prolífero casal deu origem à raça de gigantes conhecidos
como os Titãs; alguns ciclopes dotados de um só olho e um bando de outros
monstros, cada um com cem braços e cinquenta cabeças. Desgostoso com a visão da
sua própria descendência, Úrano recusou-se a permitir-lhe a existência. Então,
logo que os seus filhos nasciam voltava a enterrá-los no ventre de Gaia, nas
mesmas entranhas da terra. Astrologicamente, isto implica que na Casa de Úrano
podemos conceber algumas ideias que nos parecem boníssimas, mas que, quando as
levamos à prática e as concretizamos, talvez não resultem tão bem. O que em teoria
parecia ser tão desejável pode dececionar-nos na realidade, e às vezes, como
Úrano, temos de enterrar as nossas ideias originais e renovar a tentativa.
Obviamente, Gaia não achava mesmo nada divertido
ter o ventre repleto de filhos rejeitados. Nas sua profundezas procurou um
pouco de aço para fazer uma foice e depois implorou aos seus filhos que com ela
castrassem o pai. O mais novo, Cronos (Saturno), dono já de um bem desenvolvido
senso de responsabilidade, ofereceu-se para a tarefa. Algumas gotas de sangue
do amputado falo de Úrano penetraram no ventre de Gaia, gerando assim as
Fúrias. Quando o órgão foi atirado ao mar, da sua união com a espuma nasceu
Afrodite (Vénus).
O mito sugere as complexidades que
caracterizam a esfera da influência de Úrano. Aquela parte de nós que é mais
terrestre o Saturnina _ a nossa reserva, a nossa cautela, o nosso
conservadorismo, o nosso respeito pela tradição e o nosso medo _ é literalmente
capaz do impulso criativo de Úrano. A inibição de Úrano numa Casa pode dar
nascimento às Fúrias, cujos nomes significam "Vingança",
"Cólera", "Inveja"
e "Infindável".
Se aderirmos , no domínio de Úrano, durante
demasiado tempo aos padrões de comportamento velhos e gastos, então as Fúrias
perseguir-nos-ão. Magoados pela forma
como as coisas estão indo nesta área da vida, é frequente culparmos os outros
pela nossa infelicidade, conseguindo assim, que na psique se sedimente um
resíduo tóxico e amargo.
Para impedir uma mudança que é realmente necessária, faz falta uma quantidade tremenda
de energia e como resultado disto é provável que terminemos exaustos, doentes
ou incapazes.
Ou talvez empreendamos com toda a coragem a
nova ação, e exploremos outras maneiras originais e independentes de estar
nessa Casa. Ainda assim, é possível que despertemos as Fúrias desencadeadas
desta vez sobre nós por aqueles que se sentem agredidos e ameaçados pelo nosso
comportamento.
Tanto no nível pessoal como no nível
coletivo, na Casa onde está Úrano é onde provavelmente teremos que nos desviar
do conformismo, experimentar com novas tendências ou correntes de pensamento e
correr o risco de desbaratar-nos e de desbaratar tudo o que nos rodeia em nome
do progresso e da evolução.
Felizmente dessa luta nasce também Afrodite.
A sua presença sugere que, desde que respeitemos alguns dos limites e extremos
de Saturno e trabalhemos dentro deles, podemos tentar encontrar as formas mais
criativas e harmoniosas (Vénus) de dar à luz uma nova vida.
Nalguns casos, talvez seja impossível
derrubar de todo as velhas estruturas, mas podemos esforçar-nos por criar
espaço dentro delas, para ideias e interesses novos, e desta maneira dar alguma
forma de expressão à mudança. Este é o desafio que nos propõe Úrano no setor da
Carta onde está posicionado.
Úrano foi descoberto numa época relativamente
recente: em 1781, durante o período das revoluções norte-americana e francesa e
em véspera da revolução industrial. É um planeta que vai sincronicamente
associado com os ideais da verdade, justiça, liberdade, fraternidade e
igualdade, assim como qualquer tendência progressista coletiva que se confronte
com o status quo.
Úrano quer fazer-nos transcender os limites
do nosso passado, a nossa história, a nossa biologia e, se possível, o nosso destino: só o facto de haver
nascido no seio de uma família pobre não significa que teremos de ser
camponeses. Na sua forma pura, a sua visão é a de um agrupamento de muitos
indivíduos, onde cada um expressa a sua própria peculiaridade e, no entanto,
todos apoiam esse todo mais vasto do qual fazem parte.
Úrano é, no entanto, propenso a certas
deformações. A Casa onde se encontra é onde temos a necessidade de verdade
liberdade, e também onde experimentamos um medo desmesurado de ver-nos
capturados ou aprisionados pelas nossas próprias criações. Se sentimos demasiado
apego ao alterar para mudar, então jamais conseguiremos que algo enraíze neste
setor.
Ou, oscilando sobre essa fina linha que
separa a loucura da excentricidade de génio, talvez experimentemos a
necessidade persistente de ser diferentes sem outro motivo que causar alguma
agitação ou chamar a atenção sobre nós próprios.
A Casa de Úrano pode ensinar-nos onde
desconhecemos, desatinadamente, os limites da nossa condição humana.
Convencidos de que somos capazes de transcender automaticamente as limitações
do corpo físico, ou elevar-nos por cima dos componentes instintivos da nossa
natureza, caímos no pecado da arrogância e fazemos que se abata sobre nós o
castigo.
Com a mesma delicadeza que animou o Dr. Frankenstein
a fazer o seu monstro, em nome do futuro e do progresso desencadeamos horrores
sobre o mundo. E quando (como sucedeu com a Revolução Francesa) os ideais
utópicos não têm em conta as realidades da natureza humana, enroscam-se e
fecham-se sobre si mesmos; um processo durante o qual, por vezes, estrangulam o
que encontram no seu caminho.
Aquário na cúspide ou posicionado numa Casa,
exercerá uma influência similar à de Úrano; igualmente, haverá uma conexão
entre a Casa que contenha Úrano e qualquer Casa onde se encontre Aquário.
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