quarta-feira, 24 de junho de 2009

HISTÓRIA DA ASTROLOGIA - ANTIGO EGÍPTO E GRÉCIA CLÁSSICA



O antigo Egipto é considerado muitas vezes o berço da astrologia. De facto havia nessa cultura uma obsessão pelos céus, que abriu a porta ao estudo dos planetas, mas são os textos de Ptolomeu e de Valens de Antioquia que contêm pontos-chave da astrologia e que continuam a constituir uma inspiração e fonte de material para os astrólogos de hoje.

OBSERVADORES DE ESTRELAS EGÍPCIOS, MESTRES GREGOS

Quando o historiador grego Heródoto visitou o Egipto 450 a.C., observou que os astrólogos Egípcios “conseguem prever que fortuna e que fim e que temperamento um homem terá, segundo o dia do seu nascimento… quando acontece algo de agoirento, eles observam o resultado e anotam-no e, se algo semelhante voltar a acontecer, pensam que terá um resultado idêntico.
É bem claro que os egípcios estavam empenhados numa observação racional e bem investigada da relação entre os planetas e os acontecimentos na Terra. Mas a ideia de que o Egipto foi uma grande fonte de conhecimento e contribuiu mesmo para o desenvolvimento da astrologia é enganadora. A pretensão de que o primeiro horóscopo foi produzido no Egipto em 2767 a.C. também é suspeita, embora seja certo que, desde muito cedo, os astrónomos egípcios conheciam bem a posição das estrelas.
Quando se escavou o túmulo de Ramsés II (1292-1225 a.C.), por exemplo, viu-se que continha dois círculos de ouro divididos em 360º com símbolos que mostram o nascer e o pôr das estrelas. Isso parece sugerir que o Faraó estava interessado nos graus Ascendentes – grau da elíptica que ascende no horizonte leste num dado momento – Uma questão importante na astrologia.
O túmulo de Ramsés V (1150-1145 a.C.) continha sinais semelhantes do conhecimento dos planetas; aí se encontraram papiros com dicas astrológicas para cada hora de cada mês do ano.
Mas o grande contributo dos egípcios para a astrologia foi a invenção dos decanatos. Eles dividiram o círculo da elíptica em 36 partes com três decanos, ou divisões de 10º, em cada secção. A imagem mais antiga que temos disto está num tampo de um caixão do Médio Império, onde se vê o céu com os nomes dos decanos em colunas. Como o Zodíaco não existia nessa altura, os decanos estavam ligados às constelações. Mais tarde foram associados ao Zodíaco e adquiriram um verdadeiro valor astrológico.
Os decanos são muito importantes na astrologia médica, estando cada um ligado a uma maleita própria (os problemas de estômago atribuem-se ao primeiro decanato de Virgem, por exemplo).

TEXTOS HERMÉTICOS

Os Quatro Livros Astrológicos de Hermes são a mais famosa compilação dos conhecimentos astrológicos dos egípcios. Estes terão sido recolhidos pelo deus egípcio Tot, mais tarde conhecido pelos gregos como Hermes Trismegistus e mais tarde ainda como Mercúrio pelos romanos. Os textos eram sagrados e só os mais importantes sacerdotes egípcios eram autorizados a tocar-lhes. Diz-se que se enterrou um conjunto completo no túmulo de Alexandre, o Grande – infelizmente, ainda por descobrir. Hermes terá criado o seu próprio sistema astrológico e, entre os textos herméticos estava um livro sobre astrologia médica, outro sobre os decanos, outro sobre plantas zodiacais e um sobre os graus astrológicos.

HOMEM ASTROLÓGICO


É difícil dizer se sobreviveu alguma parte dos livros herméticos. No Sec V d.C., Liber Hermetis, um texto em latim traduzido do grego, afirmava reproduzir parte do texto. Contudo, aquele é sobretudo digno de nota por conter a mais antiga imagem que se conhece do “ homem astrológico”, em que os signos zodiacais são colocados na figura de um corpo, com Carneiro na cabeça e Peixes nos pés.
A maioria dos gregos eruditos da época clássica conhecia a ideia de que o que quer que acontecesse nos céus se reflectia nos acontecimentos na Terra. Observando com cuidado os céus, podia prever-se os acontecimentos da abóbada celeste. E assim podia prever-se os acontecimentos terrestres relacionando-os com os do céu. Nem os filósofos religiosos nem os científicos se opunham a esta teoria que se considerava derivar do senso comum.
Essa foi a época em que os livros astrológicos começaram a abundar. Os astrólogos Caldeus da Babilónia afluíam à Grécia através de Daphnae e dos portos do Egipto e os debates sobre este assunto começaram a ficar animados. Dos intelectuais e filósofos gregos, Cato e Ennius eram hostis, mas Sulla, Posidonius e Varro eram “apoiantes”, tal como Vitruvius, Propertiu e Ovid. A partir do Sec I d.C., quase toda a gente, cristãos, pagãos e judeus, acreditava na astrologia e a seguia de algum modo. Os gregos adoptaram o Zodíaco logo no Sec VI a.C. e pensa-se que foi Demócrito (460-357 a.C.) o primeiro a dar aos signos os seus nomes gregos, tais como Afrodite (Vénus), Hermes (Mercúrio), Ares (Marte), etc. Anteriormente, usavam-se os nomes caldeus ou as descrições, tais como a “Estrela Ardente” (Marte) e a “Estrela Cintilante” (Mercúrio).
Foi um caldeu chamado Berosus, um padre do deus do Sol Marduk na Babilónia que, cerca de 269 a. C., estabeleceu a primeira escola de astrologia de que há registo, na Ilha do Kos, onde havia uma famosa escola de medicina. Através de livros hoje perdidos, difundiu o conhecimento das técnicas astrológicas pelo mundo grego. Era famoso nessa época e diz-se que Atenas lhe ergueu uma estátua com língua de ouro para assinalar a sua habilidade de orador. Deixou a escola a Antipatrus e Achinapolus que ensinavam medicina e experimentaram traçar mapas natais a partir do momento da concepção e não do momento do nascimento. A teoria deles era que o signo em que estivesse a Lua no momento da concepção estaria no Ascendente no momento do nascimento. Diz-se que essa teoria tinha origem na literatura hermética. Também se trabalhava na previsão astrológica do tempo e na astrologia médica.

O TETRABIBLOS DE PTOLOMEU


Ao desviarmo-nos da Grécia para Roma, encontramos na Alexandria o homem que reuniu todas as meadas da teoria astrológica e deu o seu melhor para as explicar num único livro. Cláudio Ptolomeu (100-178 d.C.) deslocou-se para aí para ensinar na universidade fundada 400 anos antes. Ficou famoso como matemático, astrónomo e geógrafo e o seu Almagesto foi durante vários séculos o manual de astronomia reconhecido.
O seu Tetrabiblos é o primeiro manual considerável de astrologia que chegou até nós completo. Dividido em quatro livros, começa com o argumento racional de que, dado que é obvio que o Sol e Lua têm um efeito sobre a vida terrestre – através das estações, dos movimentos das marés, etc. – vale a pena considerar os efeitos que os outros corpos celestiais possam ter.
Dado que é claramente exequível fazer previsões sobre a qualidade das estações, também parece não haver impedimento para a formação de prognósticos semelhantes relativos ao destino e ao carácter de cada ser humano, pois mesmo no momento da conformação primária de qualquer indivíduo, pode perceber-se a qualidade geral do temperamento desse indivíduo; e a forma corpórea e a capacidade mental que a pessoa terá à nascença podem ser nítidas; tal como os eventos favoráveis e desfavoráveis indicados…
O livro de Ptolomeu é extremamente abrangente, como mostram os títulos dos capítulos: “Dos Planetas Masculinos e Femininos”, “Dos Lugares e Graus”, “Do Poder dos Aspectos do Sol”, “Do Momento dos Eventos Previstos”, “Da Investigação do Tempo”, “Dos Pais”, “Da Duração da Vida”, “Do Casamento”, “Das Viagens ao Estrangeiro”.
Dois mil anos depois, o Tetrabiblos ainda é um livro surpreendente, com muito mais de 400 páginas de texto compacto na sua tradução mais moderna. Ainda hoje tem valor e ninguém que se interesse a sério pela astrologia pode deixar de o ler.

O PAPEL DA ASTROLOGIA

Não é fácil saber se a astrologia era usada quotidianamente na Grécia Clássica, mas há vários escritores Gregos que avisam os leitores para não darem demasiada importância às previsões feitas pelos caldeus – o que sugere que, como sempre, havia muitas pessoas crédulas prontas a ser enganadas por falsos astrólogos. Por volta de 188 d. C., Vettius Valens da Antioquia, o primeiro astrólogo-consultador profissional que se conhece, tinha reunido uma boa biblioteca de horóscopos e incluído mais de 100 na sua Anthologiae, mostrando como os interpretava e como aconselhava os clientes.
Se na Grécia a astrologia permanecia à sombra, no Império Romano passou para a ribalta, tornando-se um elemento importante para o governo do Estado.

(Continua)

Do livro Astrologia de Júlia e Derek Parker

10 comentários:

  1. Adelaide,

    Depois desta fabulosa história, cada vez me convenço que fui outrora um "Tutankamon" e posteriormente passe por Kos! ;)

    Beijinhos, linda!

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  2. passei por Kos!!! Este teclado anda como a dona!!!

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  3. Cá estou eu para aprender mais um pouco.
    Obrigada :)))

    Beijocas!

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  4. Paula,

    Sabes que eu também tenho ideia de ter andado na escola de medicina e estudar também astrologia no passado? :) Quem sabe?...

    Beijinhos

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  5. Adriana,

    Obrigada por ter vimdo. Vamos aprendendo as duas :)

    Bjs

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  6. Marise Catrine,

    Para variar um pouco o tema decidi voltar-me para a História.

    Grata pela visita

    Beijocas

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  7. Adelaide

    Gabo-lhe a paciência em transcrever estes textos. =)

    Abraço

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  8. António,

    Pode ser que não interesse a muitos este tipo de textos, no entanto, penso que será importante que as pessoas que se queiram informar sobre astrologia possam ter uma ideias de como as coisas se passaram no passado. Isto é o meu pensamento, por isso transcrevo un texto destes de vez em quando. :)

    Abraço

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